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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A importância do resgate do lúdico

Depois de refletir sobre a infância e o brincar, buscaremos compreender o espaço que as
atividades lúdicas ocupam na vida das crianças. Para isso, algumas questões são importantes
apontar: è permitido às crianças exercerem seu direito de brincar espontaneamente? Conhecemos
os brinquedos e as brincadeiras com as quais as crianças vivenciam situações lúdicas?
Podemos considerar o brincar como um fato universal, pois sua linguagem abrange todas
as crianças do mundo independente da idade, sexo, raça ou classe social. Mas, podemos
considerar como universal que todas as crianças brincam?
Procurando refletir sobre as questões apontadas acima, vimos que nas últimas décadas, o
avanço tecnológico e científico ocorreu de maneira extremamente acelerada, e com isto várias
transformações aconteceram no interior da sociedade. Em relação ao desenvolvimento da criança
e ao brincar podemos considerar como avanços, os estudos e pesquisas desenvolvidos acerca
desta temática, a conscientização por parte de educadores da importância do brincar para o
desenvolvimento integral das crianças e uma preocupação maior em relação à segurança na
fabricação dos brinquedos. (FRIEDMANN, 1998). Como retrocessos podemos apontar que as
condições sociais e tecnológicas da modernidade comprometeram, de certa forma o espaço, o
tempo, e os objetos de brincar. As crianças perderam o espaço e a segurança das ruas e calçadas,
com isso perderam também parte da liberdade na escolha das suas brincadeiras e companheiros.
As grandes cidades, os pequenos apartamentos não permitem mais as interações sociais. Com a
modernidade as crianças não têm tempo para “perder” com brincadeiras, pois têm uma série de
responsabilidades que são consideradas mais importantes, como cursos de informática, línguas,
danças, esportes, etc. As instituições escolares são também fotografias destas mudanças de
valores, as brincadeiras foram deixadas de lado em detrimento das atividades pedagógicas, que
são mais produtivas.
Em relação à experiência do brincar é necessário que aconteça uma busca coletiva dos
valores ficados para trás, dos brinquedos tradicionais, autênticos, construídos a base de materiais
simples, mas com infinitas possibilidades de brincar e sonhar; como as bolinhas de gude, as
pipas de papel de seda, o cavalinho de pau, a boneca de pano, os carrinhos de madeira, as
latinhas reaproveitadas que serviam para a construção de uma infinidade de objetos para brincar.
Precisa-se também, que haja um resgate das brincadeiras da nossa cultura popular, as
brincadeiras alegres, cheias de energia e companheirismo, como: o pique-esconde, a amarelinha,
o soltar pipa, o brincar de casinha, o passar anel, o futebol de rua, as brincadeiras de roda;
experiências gostosas e saudáveis, nas quais as crianças corriam, pulavam, rolavam, brigavam e
aprendiam. São estas brincadeiras que deixam saudades e que marcam a vida das pessoas, pois
são significativas e acontecem profundamente na experiência de ser criança.
ABRAMOVICH (1983), desenvolveu um trabalho de pesquisa com objetivo da saber se
as crianças de hoje ainda brincam e com o que brincam e foi conversar diretamente com elas.
Baseada nos depoimentos das crianças, chegou às seguintes considerações:
Vejam só, as crianças não estão vendo muita graça nestes brinquedos passivos, que só pedem que
se olhem e que se lidem com eles cumprindo ordens, no melhor estilo escolar e no pior enfoque
lúdico... E tem mais: não gostam não de brincar sozinhas e não estão vendo muito charme nessas
propostas segregacionistas e isoladas... Querem companhia pra brincar! (...) E se ainda preferem
os brinquedos de sempre, aqueles que são eternos, como o carrinho e a boneca, se estes
continuam a grande paixão (com todas as razões), estão perdendo todos os referenciais de
antigamente por que os pais não estão lhes passando as magias e fascínios de suas próprias
infâncias... (p. 152-53)
A televisão, inserida em um universo de mudanças e de novos valores na sociedade, além
de instrumento eficiente na divulgação de brinquedos modernos passou a concorrer fortemente
com as brincadeiras livres e tradicionais das crianças, trazendo novas concepções acerca do que
seja entretenimento. As crianças por uma série de motivos como: falta de companhia para
brincar, escassez de tempo dos pais para acompanhá-la nas diversões, falta de brinquedo e de
espaço físico, passam horas diante da imagem sedutora da TV.
O computador, grande símbolo da modernidade, se tornou mais um instrumento no rol
dos brinquedos das crianças. Juntamente com a internet, ambos contemporâneos à televisão,
fazem parte também de um novo paradigma acerca do que seja o lúdico, paradigma este que vem
sendo construído paralelamente aos avanços científicos e tecnológicos da nossa sociedade.
Contudo, mesmo variando as formas e/ou as concepções, as crianças continuam a brincar,
desde a criança dos centros das cidades, das periferias, ou do campo; desde a criança carente até
a com melhores condições econômicas, até a criança de rua ou a institucionalizada, fato é, que
todas elas procuram maneiras e espaços para se descobrirem e descobrir o mundo através de suas
brincadeiras.
Nas últimas décadas temos conhecimento de algumas iniciativas que buscam resgatar os
brinquedos e o brincar no seu sentido amplo, que são as Brinquedotecas, estrutura física e social
que têm como principal objetivo a promoção do "desenvolvimento de atividades lúdicas e o
empréstimo de brinquedos e materiais de jogo". (KISHIMOTO, 1998).


fonte: trecho do trabalho desenvolvido pelas professoras: Edna Mara Gonzaga Rodrigues Puga
Léa Stahlschmidt Pinto Silva

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